Doutora Paula Coutinho

(10 de agosto de 1941 – 11 de junho de 2022)

Neurologista, professora, pioneira da neurogenética

Maria Paula Mourão do Amaral Coutinho, natural de Macieira de Cambra, licenciou-se na Faculdade de Medicina da UP, com 18 valores. Trabalhou no Serviço de Neurologia do Hospital Geral de Santo António (HGSA) desde agosto de 1966, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, na aplicação da imunofluorescência à polineuropatia amiloidótica familiar (PAF). Foi estagiária, interna geral, interna complementar, especialista, assistente, chefe de clínica e de serviço no HGSA (1967-1998, com intermitências). Na Suíça, foi assistente de neuropatologia no Instituto de Patologia da Universidade de Genebra (1971-1972) e assistente de neurologia do Hospital Cantonal de Genebra (1973-1974).

Doutora Paula Coutinho (1ªfila, à esquerda do Dr Corino de Andrade)

Trabalhou como consultora clínica no Centro de Estudos de Paramiloidose, Porto (1975-1992) e foi professora convidada de neurologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (1979-1998).

Em 1999, fundou o Serviço de Neurologia do novo Hospital de São Sebastião, Santa Maria da Feira, onde também foi diretora do Centro de Responsabilidade Médico.

No Serviço de Neurologia do Hospital de São Sebastião

Integrou, desde a sua criação em 1992, a equipa de investigação da UnIGENe, que viria a instalar-se no Instituto de Biologia Molecular e Celular (agora i3S) da Universidade do Porto, onde também foi elemento da equipa clínica do Centro de Genética Preditiva e Preventiva (CGPP).

Com o Professor Jorge Sequeiros e a Dra Milene Paneque (CGPP) 

Os seus maiores interesses clínicos e científicos foram a prática e o ensino da neurologia, a neuroepidemiologia e a neurogenética, com destaque para a PAF e a doença de Machado-Joseph (ataxia espinocerebelosa tipo 3), que ajudou a definir como entidade clínica. Foi mentora e responsável, durante 12 anos, do rastreio nacional sistemático, de base populacional, das ataxias e paraparesias espásticas hereditárias, que conduziu à descrição de novas entidades clínica e genéticas, continuando a ser uma fonte generosa de informação para investigação.

Com a tese de doutoramento “Doença de Machado-Joseph: tentativa de definição”, ganhou o Prémio Bial (1993) Foi autora ou coautora de dezenas de artigos científicos em publicações de alto fator de impacto, com milhares de citações na literatura.

Com o Dr. Corino de Andrade, durante a observação de doentes com doença de Machado Joseph na primeira viagem aos Açores

Teve como figuras de referência Corino de Andrade e João Resende, os dois fundadores do Serviço de Neurologia do HGSA. Legou a inspiração a diversas gerações, tecendo redes de pessoas livres, comprometidos com uma perspetiva convergente da medicina, ciências e sociedade.

Com o Dr. Corino de Andrade, Açores

Além do ensino, da neurologia e da neurogenética, era apaixonada pelos Açores (Flores, mais que as outras), cães rafeiros, jardins (camélias, magnólias, criptomérias, araucárias), cinema de autor, romances policiais, fórmula 1 (Ayrton Sena) e pelo Futebol Clube do Porto (sempre!).

Na homenagem que o CGPP lhe prestou em 2016, foi plantada e foi-lhe dedicada uma magnólia, no jardim entre os dois edifícios do i3S, simbolizando a ligação da clínica à investigação. A magnólia continua viçosa.

Plantação da Magnólia no i3S

Texto de José Barros (CHUPorto e ICBAS) e Jorge Sequeiros (i3S e professor emérito da UP).

Fotografias compiladas por Joana Damásio (CHUPorto e UnIGENe). Fotografias cedidas por José Barros e Jorge Sequeiros, e ainda da tese Doença de Machado-Joseph: tentativa de definição.

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